A dança lenta da Lua

A lua arrasta-se lenta e cansada.
O negro da noite segue-a igualmente taciturno.
Ambos formam um par que faz o seu turno
Nessa dança perfeitamente ensaiada.
Essa lentidão da noite não passa,
Seja a história pura ou devassa.


A lua que ilumina as noites
Lentamente sobressai do negro,
Sobressaindo assim o próprio negro.
Pois os contornos definem as aparências,
Mesmo as noturnas e suas remanescências.
Da noite sobressai o andar da lua pelas noites.


Que fará então a lua quando está ausente
Porque em certas noites se esconde?
Nas suas lentas saídas vai onde?
Parece que nem parte nem surge alegre,
Parece  triste, quer nasça ou se desintegre.
Provavelmente o que a devasta,
quando se aproxima ou afasta,
É fazê-lo sempre na mesma pressa…

As naturais barreiras urbanas

O valor de um espaço livre vazio no centro
Quando o urbano ocupa e dita as leis,
A ordem e os movimentos de dentro,
Evidencia que os urbanos abrigos e viários anéis
De outros tempos não previram as atuais
Necessidades de ir além telhados e murais.

Se a cidade liberta os espíritos
Restringe também a natureza.
Se a cidade aproxima os sítios
Aproxima também a avareza
E a insensibilidade à pobreza.
A cidade afasta-nos da natureza,
Mas não da nossa essência humana,
Pois é só nossa a criação urbana.


Qual será a nossa natureza então?
Se o que nos é natural é criar a imperfeição
Como poderemos aspirar à edificação,
De algo mas perto da perfeita ilusão?
Estou certo das nossas limitações,
Mas igualmente consciente das legiões
De Homens e Mulheres que errando querem melhorar,
Que da ignorância querem construir diferente e inovar,
Quem sabe mesmo novas cidades erguer,
Quem sabe as atuais reconverter,
Para a nossa artificial e tão própria obra,
Toda a cidade que cresce e se desdobra,
Seja aberta, livre à mobilidade de ideias,
De entes e suas mentes, sós ou em assembleias
Sem serem limitadas pelas humanas e urbanas barreiras.


Sem limitações de movimentações,
Todos poderão chegar ao seu espaço,
Contribuir num fraterno abraço,
Para uma comunhão de diversas opiniões,
De onde surjam as que melhor sirvam,
Aos próprios e aos outros que em irmandade vivam.
Quero uma irmandade universal mas onde exista o individual!
Quero algo mais artificial que a condição humana natural,
Tão não artificial que quebre as naturais barreiras urbanas humanas!