O Abraço do Lis

Liso corre o Lis,
Lívido e sem vis
Hábitos de outrora.
Longe vai a hora
Com que galgava
A sua margem vaga.
Longe vai o tempo
Do certo contratempo
Que causava ao povo.

As invasões habituais longe lá vão.
As inundações catastróficas são
Só já uma possibilidade centenária.
As ruas, modernas e atuais, apesar disso,
Podem continuar no seu reboliço
E vida sem a água como adversária.

Corre o lis baixo.
Corre vale abaixo.
Corre manso debaixo
Dos muros que o guiam,
Dos olhares que o vigiam,
Dos elementos que o contagiam.

No fundo do seu leito,
Será que lhe dará jeito
Avistar as pedras talhadas
Colocadas já lavradas
Na amiga montanha,
Antiga e próxima penha,
Amiga do tempo antes desta raça
Que o encanou e a ela empedrou de baça.

Pedras humanas que rio e montanha embaraçam
Aproximam vidas humanas nas ruas e praças.
Por essas construções as naturezas se trespassam,
As edificações naturais são revestidas por couraças.
Dessa urbana e centenária acumulação nasceu cidade.
Nasceu leiria que olha rio e montanha, que olha com saudade
Um rio que a abraçava e agora corre submisso, por vezes omisso
Às suas próprias necessidades e vaidades dos vários tempos.
Nem subindo a cidade ao castelo de lá se vê o lis belo, nem isso.
Hoje a cidade já só abraça, mas não pode ser abraçada!


Sem comentários:

Enviar um comentário