As Férias de Hoje

Anseio pelas férias,
Pelo verão de antigamente,
Aquele das tardes pouco sérias
Em que vivia despreocupadamente.
O Verão antigamente era imenso,
Nele uma segunda vida vivia.
Dele só me fica a nostalgia
Do tempo suspenso.

Mudaram as férias.
Mudaram os labores.
Acompanham-me tensões e lérias,
Sabores e impensáveis odores,
Segregados por o que esperava vir a ser.
Sabia lá eu o que seria, mesmo sabendo
O que ser queria. Assim, fui-me apercebendo
Das construções fantasiosas do crescer.

Mas vou sempre de férias,
Desejando ter as antigas
Infindáveis noites galdérias,
Onde saia comigo mesmo e amigas
Ideias de uma liberdade iludida.
Vou aproveitando os parcos dias,
As bênçãos da vida moderna.
Aproveito-os tentando uma vivência eterna.
Mas essas liberdades são vãs comédias,
Ri-o tudo numa só vez! Lá volto depois à caserna.
Esperam-me depois as rotineiras e suas tragédias.

Dizer para crer no engano do que se diz


Quando alguém se dizia ser seu amigo ele ficava de imediato preocupado. Quem repete até à exaustão o que diz ser é porque dúvida que é de facto. Ele não se cansava de repetir isto.

Mais um condenado à morte


Sentia que os dias findavam. Tinha feito muitos, mas este seria o último dos seus autorretratos. Só agora ficava evidente que, desde a nascença, era mais um condenado à morte.