As Constantes Ocupações em Correria


Transformamos os dias em continuados infernos,
Aquecendo-os e renovando as intoleráveis labaredas
Que consomem aquilo que podiam ser calores ternos,
Momentos carinhosos livres de correrias e quedas.

Transformamos o simples em complexo conjunto,
Tudo isso sem ganhar qualquer valor relevante
Que justifique o quanto consumimos em cada assunto,
Esquecendo o que se completou somente para ir adiante.

Transformamos o lazer em labor e esforço sem retorno,
Para além do facto de estarmos ocupados sem fim na alienação
Que rouba o sentido e se transforma num inconsciente suborno,
Criado e oferecido por cada um a si mesmo em inútil retribuição.

Quando já nada mais houver para nos ocupar talvez nos ocupemos de nós.

O Tempo em Gestão

Pode o tempo ter gestão?
Pode o relógio ser manipulado,
Controlado e rearranjado, por nós alterado?
Pode, mas só numa manipulação
Mecânica, momentânea e inútil,
Coisa subtil, pouco mais que ilusão fútil.

Para nosso proveito o tempo não para,
É um continuar acumulado omnipresente,
Uma ferida benéfica que, nos sem fins, sempre sara.
Atrasar é não viver, assim ditou o presente,
Pois ele nunca acontece para além do momento
Que dura, prolongando-se apenas no aborrecimento.

Não podendo procrastinar em verdade,
Resta-nos acomodar à condição da irmandade
Humana que supostamente nos define.
A vontade de controlar comprime
O individuo a gerir os soltos vimes,
Para deles fazer o cesto entrelaçado de tempos
Em uniões tecidas de muitas lides,
De muitos compromissos e contratempos.

Resta-nos então saber tecer,
Ter a capacidade de criar um hábito
De fios de tempos, tentando vencer
As limitações e o óbito
De desaparecer sem tempo.