Um Cosmos de Luz Particular

Nas trevas
Uma partícula
Embateu contra o vazio,
Preenchido pela confusão
Da permanente escuridão
Que cobria tudo por igual.
Tudo era indiscritível e Indefinível.
Tudo era igualmente o mesmo
Sem definição e alma distinguível.
Esse átomo primordial,
Eterno na sua existência
Ganhou memória.
No escuro decidiu mudar,
Converteu movimentos e redirecionou
Toda a sua energia para si próprio.
Implodiu e libertou tanta luz
Que o universo mudou também.
A explosão desencadeou reações em cadeia.
A luz interior libertada pela multidão ativada
Transformou todos os que chocavam sozinhos no vazio.
Somou-se num cumulativo de calor iluminado.
Os átomos perderam o isolamento.
Mudaram, criando uma nova dinâmica coletiva,
Livremente conscientes do seu poder.
Cessou o fatalismo da solidão.
Uns agregaram-se e o universo mudou ainda mais.
O movimento sensível gerou a vida
De um cosmos que existia adormecido.
Pulsava então a potência da utopia
Da realidade materializada
Em maravilhas.


Mas nem só a claridade
Definia o novo universo.
Permaneceram trevas e vazios.
Permanecia a diversidade dos extremos,
Do muito e do pouco,
Da energia e do marasmo,
Do efémero e do eterno.
Alguns astros daquele cosmos
Continuavam isolados da sua vizinhança,
Teimosamente sem cor,
Sem qualquer radiação partilhada.
Outros embatiam com tal violência,
E irresponsabilidade,
Que arrastavam tudo
Numa espiral de energia destruidora,
Criando buracos negros
Consumidores da energia alheia,
Tão criteriosamente poupada para outras existências.
Mas agora os embates podiam ser vistos
Para além da insensibilidade do vácuo.
Tudo ficou frontalmente mais transparente.
O pano caído das trevas
Revelou a realidade construída
De uma diversidade imperfeita.
Partículas, átomos e moléculas
Morriam agora à vista de todos.
Mas enquanto viviam brilhavam,
Partilhando a sua essência
Com quem os aceitava apreciar.
A tolerância mantinha a esperança
Duma eternidade conquistada,
A cada instante vivida,
Enquanto o combustível da vida
Mantinha a luz da existência.