O desfiladeiro

Entre neblinas que ocultam,
Persistem, rodopiando,
Obscuridades incertas,
Trazidas por ventos imprevisíveis.

A luz intermitente cinge-se
Ao mínimo suficiente,
Pois entre vales incertos
Reina sempre a penumbra.

Sobre os colossos de outros tempos,
Esculpidos da rocha pura,
Jazem as esperanças erodidas
Pelos elementos adversos
Desse ambiente desgastante.

A natureza das coisas
Cobriu-se de um manto de dor.
Enquanto dilacera,
Ao longo de muitas vidas humanas,
O desfiladeiro mostra as verdadeiras formas.
Enquanto sangra com chuvas
Lava as suas fragilidades.
Ficam as ruínas sólidas
Da sua verdadeira essência.


As palavras dos outros e as minhas

Escrevo como sei.
Escrevo por mim.
Não porque não me emprestem palavras,
Não porque não saiba onde as extrair,
Aquelas dos grandes mestres.
Mas porque as minhas me dizem,
Todos os dias, em jeito de bofetada,
Que ainda mal as sei usar.