Transpirar é sentir e comunicar

Porque transpiramos? Não podíamos simplesmente não transpirar? 
Sim, claro, transpirar serve para regular a temperatura interna, pois no fundo somos uma termomáquina que necessita de regular a sua temperatura, ou não fosse falhar o funcionamento de qualquer uma dos nossos muitos órgãos – qual orquestra sempre afinada e, constantemente, controlado por um maestro que é o verdadeiro cérebro de tudo. Mas não será transpirar também um modo de comunicar, de expressar sentimentos e acções? O nervosismo, o cansaço e o esforço tornam-se adjectivos corporais via transpiração. E não nos enganará também a transpiração? 
Sim, obviamente que sim, engana quem transpira e quem vê transpirar. Primeiro porque nem sempre é evidente o motivo pelo qual os outros transpiram. Em Segundo, porque nem quem transpira sabe, por vezes, a razão para a sua própria transpiração e, pior ainda, está longe de a controlar. Assim, transpirar é natural, é algo primordial na nossa natureza, mas é também comunicar, premeditadamente e involuntariamente. Transpirar revela também as nossas fragilidades de falta de controlo – tão próprias da condição humana. Por vezes há odores quem incomodam a quem vai produzindo.

Um objecto para ler

Sou quadrado e pesado,
formatado toscamente pelo acaso.
A cor da armadura
à muito da memória se perdeu
ou se embutiu e desapareceu.
Melhor assim, pois nada perdura

Quem sou eu? Sou velho?
Ou fazem de mim velho?
Sim, serei aos olhos distraídos!
Que importa não ser compreendido?
Eu próprio nunca me darei por vencido,
e dos olhares fugazes não sigo juízos.

Sou uma pilha repleta de vida,
uma alma escrita rejuvenescida.
Pois cada página que se preenche
mais me enche e alimenta a essência
Sim, sou um livro fechado e contente,
com histórias para portadores de paciência.

Arcadas Castelo de Leiria de tons azulados e amarelados

Fotografia com filtro de máquina compacta

O Tédio do Conhecimento

Será este fenómeno universal?
Com tanta ilusão de diversão,
Com o fútil em constante invasão,
onde vive o saber de verdade?
E se não conhecermos a realidade?

Mesmo inseridos na turba senil silenciosa,
os sentimentos da tristeza nos assolam!
Não os sentimos pois cegam sem conhecimento.
Não vivemos o saber como sentimento.
Infelizes são os outros que mergulham no tédio,
aqueles que afinal procuram o vil remédio.

Vem a conclusão! Talvez o tema desta oração
beba do erro de análise e observação.
Pois justificar o senso perante os tediosos.
Então o problema é do sábio amador e imaturo!
Ele tudo que quer conhecer sem ser maduro
de sapiência, mesmo afastado e longe da selvajaria
muito se assusta, poucos cativa com sua sabedoria.

Pelo menos evite-se a morte intelectual
assumindo o tédio como algo de real,
fatal por nos ser fado carnal.

Tempo lento e cinzento

Cinzento este tempo lento
Que se arrasta sem vento,
Não desperta nem cria alento.
Cessa até no intelectual o movimento.

Passam as horas vagarosas,
Passam devagar e morosas,
Passam as somas delas em dias;
Passam esses somados em vidas.

Contam-se as existências indiferenciadas,
Subtraem-se as vivências justificadas
Pelo valor da distinção e da qualidade.
Resta reinventar esta nova modernidade,
Não por vaidade, mas pela necessidade
De uma nova realidade.