Perguntei ao ChatGPT quem eu era. Não soube responder. Desde então nunca mais falámos. Seguramente que não sente a minha falta.
Pensamento do dia #618
Agora quando cumprimentamos alguém arriscamos jogar um "Pedra, Papel ou Tesoura"
Anjo da guarda republicana
A versão anjo da guarda para ateus, laicos e republicanos:
"Anjo da guarda republicana, guarda os meus filhos de noite e de dia em nome da república portuguesa"
Pensamento do dia #616
Quando um debate eleitoral serve apenas para avaliar quem ganhou: quem perde são os eleitores.
Pensamento do dia #613
Hoje estou com uma ligeira dor de cabeça e má disposição, ou foi da segunda dose da vacina ou de ter estado a ler Nietzsche.
No Topo está o Pai
No céu está o pai imaginário,
Criado por necessidade,
Por medo de um mundo
Que simplificamos de binário.
Então e a mãe?
Não é ela que acarinha também?
Herdamos um pai vingativo,
Tão estranho…
Nem parece uma pessoa de bem.
Tão bizarro…
Tanto que o transformamos,
Aprendemos a viver com ele,
Transmutado num flexível paliativo.
No céu está Deus,
O pai que resiste a aviões
A todas as penetrações,
Até de foguetões.
Por lá reside,
Imaginado entre nuvens de fantasia.
Mas é por cá que temos os pais reais,
Na terra que nos pariu,
E que um dia nos engolirá também.
Até lá também seremos pais,
Tão falíveis como os demais.
Mãe só uma, duas ou...
Uma aqui, outra ali,
Afinal muitas pelo mundo fora.
A nossa é especial porque é uma delas,
Dessas muitas que,
por serem semelhantes,
Nos fazem sentir gratos,
Ao ponto de dizermos que,
De todas, só há uma.
Espera sem espera
Demorando a passar cada evento,
Cada momento longo além do desejado.
Fico enfeitado de tédio escorrendo marasmo,
Enquanto espero por um posicionamento
Que me oriente para o contentamento.
De um momento para o outro tudo pode acontecer.
Tudo pode não dar em nada,
E nada continuar a ser o tudo que espero.
Preciso de não ter de esperar.
Preciso de avançar, mesmo que seja para trás.
O fim dos tempos é uma mitologia
Em que não creio porque nunca chega,
Porque o tempo não progride, não muda.
Tudo se estagna e persiste,
Liquidamemte sem forma
E sem o molde que lhe quero dar.
Sono do fim dos dias
Tapando as memórias
Do dia que passou.
Alucinações sem importância
Nem significado
Passam sem despertar
Do sono que não chega.
Pouco falta para o fim de mais um ciclo.
Não foi só um dia,
Foi uma noite iluminada por luzes próprias
E um dia com as suas ocultas sombras.
Foi um dia como as outras noites.
Foi mais um sem conta dos outros.
Por isso já não sei se foi só um ou não.
Mesmo tendo sido muitos pouco importa.
Todos sempre terminam tal como este dia.
Todos terminam num sono
Antes de um acordar inconsciente.
Não esperes pelos significados
Apenas lendo o que escrevo.
Não esperes tirar dessas palavras
Significados absolutos.
Não esperes perceber estas palavras.
Não esperes...
Não...
Arrumar as coisas
Fica o lavar das memórias
Avulsas acumuladas.
Com o tempo juntam-se coisas,
Indefinidas e sem utilidade presente
Para além de fazerem lembrar
Passados ocorridos.
O esforço de arrumar histórias,
Quando estas são materiais,
Estimula o corpo a falar com a mente.
A memória ganha peso e volume.
A memória existe até ser deitada fora.
A memória conversa por momentos.
O corpo responde,
Não quer ouvir mais,
Não pode suportar mais o peso do passado.
Coisas por arrumar,
Coisas para meter no lixo,
Guardando apenas o essencial.
Depuração do consumismo
De acumular tesouros inúteis.
Querer ordenar sem receio
De perdermos parte de nós
Obriga a um novo começo,
A um novo ciclo de acumulação
Limitado pela nossa capacidade de guardar
E saber quem somos para além das coisas
Que achamos que guardam a nossa essência.
Novo turno
Novo turno,
Em que todos poderão jogar,
Na sua vez
Ou em conjunto.
Cooperando ou competindo.
Vence quem joga,
Sozinho ou em grupo.
Somos iguais,
Seguindo as mesmas regras,
Mesmo sem as conhecer,
Pois basta querer aprender
O papel de cada um.
Ganhamos ainda mais
Quando alguém melhora
O jogo coletivo.
Mas afinal,
Na contagem dos pontos,
No confirmar dos objetivos,
No levantar da glória,
Ou quando o tempo se esgota,
Só perde quem passou
O ano sem jogar,
Sem viver.
Tirania do ecrã
De olhos vidrados
E dedos deformados
Enquanto me curvo
No narcisismo tecnológico.
Sou eu, projetado virtualmente.
Eu que nunca fui assim nem serei;
Um modelo de qualquer coisa,
Melhor porque me edito e re-escrevo.
Não sei viver sem este ciber-ego,
Não sei viver sem rede,
Não sei viver sem estes dois dedos
De conversa manipulada em tempo irreal.
Polegares deformados pressionam-me,
Re-configuram-me, transmitem-me o vírus,
Fazem crescer o vicio de querer ser perfeito
Neste mundo digital onde apenas bastam
Estes membros amputados de mim,
De um corpo que perdeu o mundo.
Hora de combater
Abala os corpos e as mentes.
As mais fortes vibrações
Evidenciam a ruina eminente.
Já cheira a morte.
As feridas estão por sarar.
A sujidade ameaça contaminar
Tudo e todos.
Ninguém irá escapar a esta sorte.
Chegará a minha vez de combater.
Mas estou desarmado neste arsenal.
Como posso lutar com armas que não sei usar?
Como posso ser letal?
Quero genuinamente vencer,
Mas como? Como posso combater?
O vento sopra do lado inimigo,
Traz o cheiro de vitória e destruição.
Relembro o paraíso antigo,
Perco-me numa longínqua memória
Perante esta ausência de glória.
Chegou o momento!
À carga!!!
Viagem ao buraco negro
Sanguessuga de luz,
Destruidor de matéria,
Vivi uma vida translúcida.
Refleti a escuridão,
Intensificada pelo pior de mim.
Fui o louco navegador
Que lutou inerte contra a gravidade.
Fui o inconsciente sábio
A quem todos aconselharam
Para que tivesse mais sabedoria.
A alma resistia a desprender-se do corpo.
Mas consegui mante-la
Perante a atração autodestruidora.
Fiz de conta que esqueci o medo
Para compreender esta força de atração.
Falhei porque escolhi a compreensão.
Acertei porque a perda de massa,
Do seu peso relativo,
Nunca me preocupou.
Banquete de Carne
As facas suspiram por carne,
Transpiram sangue de nervosismo.
Anseiam por serem afiadas,
Ainda que temam
Perder o sabor a morte do passado.
Peitos abertos
Costas assinaladas
Preparam-se na inocência
Para resistirem às facas.
Há quem prefira uma coxa para entreter.
Certamente se irão juntar
Nabos e repolhos,
Meramente decorativos.
No fundo interessa a carne,
Ainda viva,
Servida à mesa festiva.
Nem a música foi esquecida
Para abafar os gritos
Da dupla matança.
Na há refeição sem morte,
Não há vida sem medo,
Pois quem não temeu não viveu,
Apenas digeriu sem saborear.
A fome aperta,
As entradas já lá vão,
Devoradas com a pressa
De provar a carne.
Bom apetite.
Um nojo
Projetando pus pelo ar,
Libertando um cheiro
De fedor que sintonizou
Vómitos e excreções.
O ritmo da podridão
Avançou sobre vomitados e fezes
Que no calor corriam misturadas em diarreia,
Inevitavelmente estagnando,
Inevitavelmente borbulhando
E deixando uma espuma de dejetos
Que ritmava ao sabor da brisa agoniante
Do nojo de toda aquela paisagem.
As palavras dos outros e as minhas
Escrevo por mim.
Não porque não me emprestem palavras,
Não porque não saiba onde as extrair,
Aquelas dos grandes mestres.
Mas porque as minhas me dizem,
Todos os dias, em jeito de bofetada,
Que ainda mal as sei usar.
A Queda de um Ídolo
Valioso, esteticamente talhado e estável,
Equilibrado na beleza e no peso
Que não temia cair com o vento
Enquanto irradiava o talento
Que lhe cobria o corpo enferrujado
De um interior metálico,
Nada nobre.
Só temia ser roubado
Por outro oportunista.
Aquele dourado era uma mera capa,
Renovada pela sua loucura,
Pela ilusão do seu valor.
Afinal até o peso desaparecia
Com a acção dos dias.
Era um metal não tratado,
Impreparado para a agressão
Interna do trabalho.
Com os anos apenas restava a película dourada,
Suportada pela estrutura precária.
Com uma derradeira brisa caiu.
Só o chão o amparou
Porque era o único sem hipótese de fuga.
Ficou derrotado num estilhaço sem reparo.
No fim vieram os reconstrutores.
Trituram os restos daquele ídolo.
Transformou-se em inerte,
Agora mais útil e verdadeiro
por todos o puderem finalmente pisar.
Vídeo do poema "Amigos quase Desconhecidos" ao vivo
Vídeo registado durante o 1.º Poetry Slam de Leiria, realizado no Atlas Hostel em Leiria, dia 19 de Março de 2017. Poema da autoria do declamador, Micael Sousa.