A Pedra e o Riacho


Uma pedra caiu, soltou-se da encosta.
Caiu verticalmente, à gravidade exposta.
Caindo, ganhou uma velocidade silenciosa.
Parecia inconsciente e nada ciosa
Do impacto que a esperava abaixo,
Onde nascia um tímido e imberbe riacho.

O estrondo foi tal como se previa!
A pedra em queda chorou como podia.
Saltaram-lhe as lágrimas emprestadas
Pelo riacho, que estava de mãos atadas.
Ela ficou obliterada e ele desconchavado.
A Pedra lascou, o Riacho perdeu o curso, deformado.

Da relação conflituosa a pedra desfez-se de desgosto,
Dela sobrou o seu centro, o seu coração agora exposto.
Ficou sentida desse impacto, do ressalto que a levou
E projetou para uma outra ravina, de onde não mais voltou.
O riacho lá recuperou. As suas águas mais abaixo se juntaram,
Também com a descida ganhou força e vigor. Nunca abrandaram…

A Pedra agora é areia, e o rio,
Nascido do riacho, agora é mar.
Envolvem-se, revolvendo-se, sem parar.
Recriam dramas e alegrias sem findar.
Fazem-no sem saber que este estágio
Está longe de ser um eterno adágio.

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